André Mosqueira do Amaral, CEO da Liga Portugal, partilhou palco com Ahmed Abbassi, da Qatar Stars League, Gabriel Lima, da Liga Forte União, para abordar novos formatos de ligas
As ligas de futebol em todo o mundo estão a reinventar-se para responder a novos desafios — competitivos, económicos e tecnológicos. O Qatar e o Brasil já deram o passo em frente e, numa altura em que também os direitos de transmissão estão no topo da agenda, partilharam experiências que migraram para as novas plataformas digitais. Ahmed Abbassi, director executivo da Qatar Stars League, foi o primeiro a falar neste painel do último dia do Portugal Football Summit e explicou que o modelo desta liga do médio oriente se baseia na sustentabilidade financeira e que as regras são claras. “Temos uma abordagem centralizada. Queremos que todos os jogos sejam o mais competitivos possível , incerteza quanto ao resultado, o primeiro contra o último ninguém sabe quem pode ganhar. Temos equipas que estão quase na liderança e que estavam na II liga. Quando pensamos na Qatar Stars League, antes eram as grandes estrelas que vinham acabar a carreira, hoje, 35% têm menos de 25 anos, são 60 em 150 jogadores estrangeiros. É um foco de talentos”, explicou. “ O conselho que dou é não se limitem a copiar a abordagem, não há dois contextos iguais. Por exemplo, temos um sistema de controlo financeiro centralizado que garante que todos os clubes não têm dividas, temos uma equipa de scouting centralizada – aprendemos muito com Portugal nesta área – e temos um limite de teto salarial. Não queremos que os clubes tenham dividas, temos de garantir o justo valor. Não devemos pagar demasiado, não pagamos para jogarem apenas 90 minutos, mas para que sejam profissionais 24 horas, 7 dias por semana. Como treinam, como dormem, como comem”, exemplificou. “Os clubes decidem, mas temos direito de veto”.
No Brasil, há dois anos, tudo mudou. Da centralização e das transmissões que estavam nas mãos da Globo, hoje, a distribuição é totalmente diferente, conforme Gabriel Lima, CEO da Liga Forte União, contou. “Todos os clubes vendiam os seus direitos diretamente aos grupos de media e o que tinha os direitos era a Globo. Há dois anos reunimos os clubes e decidimos ter uma abordagem centralizada e é muito difícil juntar 40 presidentes de clube e fazer com que eles concordassem como dividir os direitos. Decidimos ter dois grupos com visões semelhantes, mas com pormenores diferentes sobre como desejam vender. Hoje, duplicamos os montantes que entregamos aos clubes e temos quatro transmissores, dois TV aberta e a Amazon e o Youtube, que pela primeira vez pagou direitos de transmissão. No ano passado, o primeiro classificado recebeu oito vezes mais do que último e este ano apenas três vezes mais. Acredito que isto melhorará”, perspetivou.
Em Portugal, André Mosqueira do Amaral, CEO da Liga Portugal, está pronto para o desafio dos direitos e para muitos outros desafios que se propõem abraçar. “Se fazemos algo em grupo é melhor do que individualmente e a abordagem em outras geografias mostrou que dividir para reinar é pior para os clubes. Temos de pensar em outras iniciativas, além dos direitos. A nossa industria é do entretenimento, lutamos pela atenção, pelos seguidores, pelo engagement. Todos lutamos pela dopamina. A forma como as redes sociais conquista atenção no scroll é luta pela atenção”, considerou. “A centralização tem de ser vista de forma holística. Não é só vender os direitos de transmissão de forma coletiva, o que vai gerar maior valor económico, o grande desafio é o que mais podemos fazer para além disso? Temos de pensar no entretenimento. Qual é a proposta de valor que vamos oferecer aos fãs, adeptos? Num mundo onde haverá uma hiperpersonalização, com exemplos do uso da inteligência artificial para o fazer, por exemplo, com dados”, acrescentou.
“Estamos num mercado de economia aberta, não soviética. O nosso produto é interessante para diferentes operadores com diferentes funções de reação. Netflix e Amazon são diferentes das da Sporttv, Meo, Nos, Dazn, SIC, TVI… Podemos ter no nosso próprio canal… Este ano produzimos e transmitimos jogos amigáveis e num deles tivemos telespectadores de 51 países que assistiram a um jogo na aplicação da Liga TV, num sábado de manhã”, rematou entusiasmado.