Presidente da SIGA defende que é preciso fazer mais para garantir a integridade e transparência no desporto
A transparência financeira é um dos maiores desafios para a credibilidade e sustentabilidade do futebol. Moderado por Paul Reidy, jornalista do AS, o painel “Seguir o dinheiro: garantir a transparência financeira no futebol” procurou discutir mecanismos de supervisão, inovação tecnológica e boas práticas que podem reforçar a integridade e a confiança no ecossistema financeiro do futebol.
Giovanni Tartaglia Polcini, Presidente Independente da SIGA - Sports Integrity Global Alliance, organização que pretende garantir que a indústria desportiva seja gerida pelos mais altos padrões de integridade, começou por afirmar que existem “interesses criminais de grupos económicos que olham para o desporto como uma possibilidade para as suas intervenções e atividades. O perigo é real e global. O crime organizado está a usar os seus canais para se infiltrar na economia”.
Nesse sentido, a intervenção de António Oliveira, Diretor da Unidade de Informação Financeira da Polícia Judiciária veio demonstrar as dificuldades das autoridades: “A indústria do futebol é muito rica em transações complexas, tem muitas vulnerabilidades que podem ser exploradas, como a evasão fiscal, por exemplo, ou relacionado com as transferências de jogadores, que têm muitas percentagens distribuídas pelos clubes, empresários, empresas de direitos de imagem. Depois há transferências entre países, com jurisdições diferentes, que facilitam a circulação de capital ilícito; offshores; cripto moedas; intermediários não licenciados”.
Sendo assim, como é que os reguladores, clubes e instituições financeiras podem cooperar para identificar e prevenir atos ilícitos? Sebastian Dieguez, chefe de relações públicas da Chiliz&Socios.com, apresentou algumas soluções do grupo Chiliz, uma blockchain ligada ao desporto que já conta com parceiros como Barcelona, Sevilha, PSG, Arsenal, Inter de Milão, e Benfica. “A blockchain tem vários benefícios, ajuda na área da transparência em operações financeiras, comerciais, desportivas. De onde vem o dinheiro, para onde vai… é uma tecnologia para tornar as transações públicas, mantendo o anonimato. As transferências preservam a identidade, podem ser de clubes, famílias, agentes, mas a informação fica lá e pode ser auditada”.
Do debate retirou-se a conclusão de que é necessário um esforço conjunto e coordenado, de várias entidades, de modo a construir um ecossistema transparente e íntegro. “Estamos a tentar trabalhar com os clubes, os bancos trabalham muito bem connosco, temos a visão geral das situações, falta convencer os clubes a juntarem-se a nós”, referiu António Oliveira. E Giovanni Polcini concluiu que “a SIGA tem sido um farol, pretende dar instrumentos aos atores do desporto, em particular aos do futebol, para prevenir esta ameaças. O sistema independente de classificação e verificação SIGA é parte integrante do nosso ecossistema para a indústria desportiva para garantir integridade e transparência”.