Mário Centeno: “No futebol e na economia o segredo é a formação”

Portugal Football Summit

Antigo ministro de Estado e das Finanças e ex-Governador do Banco de Portugal traça paralelos entre o futebol e as atividades económicas

Mário Centeno, antigo ministro de Estado e das Finanças, ainda guarda com particular emoção o momento em que apelidaram de Cristiano Ronaldo das finanças, sublinhando que a comparação com o capitão da Seleção Nacional foi um motivo de orgulho pessoal e para o país. “Foi muito interessante que na Europa se tenha feito equivaler os sucessos económicos que alcançámos, e que têm de continuar, com o sucesso do nosso futebol e, em particular, comparando-me com Cristiano Ronaldo, identificando os sucessos da economia portuguesa «com os enormes sucessos do Cristiano, ainda por cima vindo do ministro das finanças alemão que é muito ortodoxo”. Ser colocado no patamar de Cristiano Ronaldo, símbolo maior do sucesso em português, foi marcante “pelo que significava”. “Só foi cunhada porque Portugal surpreendeu. Ganhámos o Europeu, ganhámos a Eurovisão e estávamos a conseguir ultrapassar as nossas dificuldades de incumprimento. 2016/17 foram dois anos em que a autoestima dos portugueses aumentou. Eramos vistos como incumpridores. Quando conseguimos juntar tudo isto, o futebol, a música e as finanças, foi muito emotivo”.

Adepto confesso e praticante do Benfica, Mário Centeno consegue com particular facilidade juntar áreas tão distintas como futebol e finanças no mesmo pensamento. Dizendo, por exemplo, que “o futebol não é uma indústria à parte”. “Tem muitas ramificações nas atividades económicas em geral, não apenas pelos eventos e pelo impulso que transmite à economia, mas também pela emoção. A economia é muito feita de emoção, de sentimentos e expetativas e não há nada que preencha melhor estas áreas do que o futebol. Muitas vezes na economia, estamos a gerir expetativas, estamos a chamar os agentes económicos para uma previsibilidade que queremos que seja partilhada por todos”.

Aliás, puxando a brasa à respetiva sardinha, Mário Centeno recusa a ideia de que o futebol seja um caso de sucesso à parte. “Temos vindo a fazer um progresso que nos escapa. No futebol é mais fácil, porque há resultados imediatos. Mas tanto no futebol como na economia há progressos que só foram possíveis através da formação, através da qualificação dos jogadores, treinadores, árbitros, através de termos todos procurado a excelência”. Concretizando, o antigo governante acrescenta: “Na economia temos essa visão de debilidade, porque durante séculos a nossa atividade favorita era destruir o sistema de ensino. Chegámos a1974 com mais de um quarto da população analfabeta, nas mulheres era mais de um terço. Esta transformação que a sociedade portuguesa tem vindo a ter, de forma silenciosa, é o mesmo que se passa numa academia de futebol com a qualidade que metemos nos processos de excelência. É uma cultura que se cria”.

Mário Centeno acrescente à lista de semelhanças entre o futebol e a economia a necessidade de estabilidade, bem como a integração e abertura do mercado laboral. “Temos jogadores, treinadores e técnicos a trabalhar fora e temos gente de fora a trabalhar no nosso futebol. Essa abertura é fundamental também em termos económicos”

 


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