Miguel Farinha, Country Managing Partner para Portugal da EY, moderou painel sobre Investimento no Desporto que abordou desafios do futebol masculino e o potencial de crescimento do feminino
O desporto transformou-se num dos sectores mais dinâmicos e atrativos para o investimento global, onde paixão e estratégia se encontram. Num painel moderado por Miguel Farinha (Country Managing Pertner para Portugal da EY) e no qual participaram Massimo Marinelli, (founder & managing partner da Berkida Ventures), Guilherme Avila (managing director, Investment Banking Division do Itaú BBA), Fausto Zenetton (founder e CEO da Tifosy Capital & Advisory) e Victoire Cogevina Reynal (CEO e co founder da Mercury 13) o tom oscilou entre o otimismo moderado em relação à suturação no futebol masculino e a excitação no futebol feminino, com um elevado potencial de crescimento.
Focando a dinâmica do mercado global de investimento em futebol, Fausto Zenetton alertou para a mudança do contexto. “Viemos de um período em que havia grande excitação, mas isso abrandou de alguma forma. Alguns investidores perderam dinheiro, e a volatilidade levou algumas pessoas a preferirem a parte de crédito do negócio, com aposta no financiamento com base no cash flow. O futebol masculino é um mercado maduro e haverá alguns vencedores e muitos perdedores”.
Guilherme Avilla admite os desafios, mas tem uma visão mais otimista, sublinhando que o mercado “vai continuar a crescer, mas em contextos e mercados diferentes”, referindo a “diversificação do investimento” como via para esse crescimento. Um ponto de vista partilhado por Massimo Marinelli, que aponta a entrada de investidores americanos no mercado europeu como um sinal de potencial para a melhoria “da monetização”. “Há, nos clubes, um excesso de confiança nas formas de rentabilização tradicionais, mas continuará a haver capital enquanto os investidores perceberem o potencial que existe para melhorar a monetização”
O poder dos adeptos é, simultaneamente, um dos trunfos do mercado de futebol, mas também um dos entraves à sua modernização. Massimo Marinelli ofereceu um exemplo para o explicar. “É fundamental a entrada de novas equipas de gestão que não estão contaminadas pelo desporto. Têm de pensar diferente. Num dos clubes por onde passei houve a necessidade de implementar bilhetes digitais e a administração resistiu bastante, explicando que os adeptos não tinham telefones. Depois de dois anos, a mesma pessoa, apresentava os resultados dos bilhetes digitais dizendo que foi a melhor decisão que tinham tomado. É um exemplo da forma como nova gestão pode mudar a forma de pensar fora da caixa do desporto. Todos dizem que os adeptos estão em primeiro, mas é preciso mais ação para o concretizar.
Num estágio de maturação diferente, o futebol feminino apresenta-se com um potencial de investimento ímpar, tal como sublinou Victoire Reynal. “O mercado está ativo em todo o mundo, e em particular no que diz respeito ao desporto no feminino, onde é importante oferecer uma visão a longo prazo aos investidores”.
Comparando o futebol masculino a «uma empresa cotada em bolsa” e o feminino “a uma start-up”, Victoire aponta o segundo como “uma oportunidade”. “As receitas esperadas no futebol masculino não existem no futebol feminino. Direitos de tv não têm a mesma dimensão, as transferências também não, mas os patrocínios são muito importantes e agora vemos muitas marcas a entrar no jogo e a alterar as dinâmicas do futebol feminino e, em consequência, a mudar a dinâmica do investidor tipo”. Com desafios diferentes para resolver, há vantagens claras no futebol jogador por mulheres. “As mudanças no feminino serão muito mais rápidas. Há muita excitação sobre o Mundial Feninino no Brasil com vários investidores a assumirem risco com propriedades femininas”
Desafiado a traçar objetivos de crescimento para o futebol português. Fausto Zenetton apontou a necessidade de inovação. “Os clubes portugueses têm de rever as respetivas estratégias. Ainda se focam na transferência de jogadores. Cresci nos anos 80 e 90. Clubes como o FC Porto venceram Champions, mas isso será muito difícil no futuro com gigantes como o Real Madrid a conseguirem dois mil milhões de receitas. É uma corrida ao armamento nuclear e há um fosso enorme entre equipas da Premier League e gigantes europeus e os restantes. Portugal tem de fazer o que faz bem, que é desenvolver talento, ligações com Brasil e Africa para vender aos clubes de topo. Os que disserem que querem competir na Champions, vão perder. É preciso monetizar o que se faz bem e gerir muito bem a relação com os adeptos que ainda acreditam ser possível vencer uma Champions League”.
Na mesma linha, a centralização dos direitos televisivos apresenta-se como uma oportunidade e um desafio. “Pode ter um enorme impacto na valorização dos clubes e da liga se for feita da forma correta” explicou Guilherme Ávila. “Foi o que aconteceu com a NBA nos anos 50, quando os donos tiveram de ser convencidos que seriam um produto muito mais interessante se estivessem todos juntos. Se fores o Benfica, naturalmente não te preocupas com os outros, preocupas-te contigo. Os teus pares são clubes europeus e não os portugueses. Porque há de subsidiar os pequenos? Mas quanto mais fragmentado for o mercado, mais difícil será para o mercado português. Se o fizerem corretamente, não apenas conseguem mais receitas diretas, mas conseguem baixar os custos do capital/crédito. Aliás, mais do que centralização, o desafio é que haja coesão”.
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