O “Mágico” despediu-se, esta sexta-feira, das quadras. O seis vezes melhor do mundo vestiu a camisola das quinas em 188 ocasiões, marcou 142 golos e conquistou 43 títulos a nível profissional
O Auditório 1 da Cidade do Futebol foi pequeno, esta sexta-feira, para receber a despedida do melhor de todos os tempos nas quadras.
Ricardinho, internacional de futsal português, anunciou ao início desta tarde que se retirará profissionalmente da modalidade, numa carreira marcada por muitos êxitos. O mágico número 10 capitaneou a seleção lusa na conquista dos seus dois primeiros grandes troféus internacionais: o Campeonato Europeu de Futsal de 2018 e o Campeonato do Mundo de 2021, destacando-se ainda os 142 golos pelo seu país, ao longo dos 188 jogos disputados.
Nascido em Gondomar a 3 de setembro de 1985, Ricardo Filipe Silva Duarte Braga começou a dar os primeiros passos na quadra no Gramidense, para em 2001/02, e já ajustado ao jogo no pavilhão, o esquerdino cruzou o rio Douro rumo ao Miramar, onde iniciou pelos juvenis, foi campeão nacional de juniores e se estreou nos seniores.
Em 2003, com 17 anos, ingressava no Benfica e desde aí é história: o seis vezes melhor do mundo começava a sua caminhada que lhe daria três Ligas dos Campeões, cinco títulos nacionais, quatro Taças de Portugal, cinco supertaças, três Taças de Espanha, três supertaças espanholas, uma Taça do Rei, dois campeonatos franceses, três ligas japonesas, uma na Letónia e, ainda, uma supertaça nesse mesmo país.

Com Pedro Proença, Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, presente na cerimónia, sentado ao lado do eleito melhor jogador de futsal do mundo, o líder máximo da FPF foi ao palco no início da cerimónia tendo dirigido umas palavras a Ricardinho.
Pedro Proença começou por relembrar o papel que o campeão europeu e mundial por Portugal teve no futsal: um homem que ao longo da sua carreira sempre enobreceu a sua modalidade. Que motivou e serviu de exemplo a jovens e adultos".

Quem também não quis deixar de endereçar umas palavras ao seu capitão foi Jorge Braz, Selecionador Nacional, que através de uma mensagem de vídeo declarou: "hoje é um dia especial, não é um dia triste. Sei quanto o que te custou deixar de jogar pela seleção e, por isso, imagino o quanto te custa agora deixar mesmo de jogar. Mas como referi, não é um dia triste, mas sim especial, pois serás recordado como o melhor de sempre, não tenho dúvidas. Deste muito ao futsal português, ao desporto português, ajudaste-me a crescer enquanto treinador, ajudaste a crescer a seleção. Venceste em todos os locais por onde passaste, por isso é com essas memórias que te vão recordar o teu percurso como jogador, o melhor de sempre.”
“Num dia como o de hoje, só existe uma palavra: Obrigado! Obrigado pelo legado que deixaste, exemplar para os jovens que agora se apaixonam e gostam do futsal”, finaliza.

O momento mais esperado chegava, com o mágico a subir ao palanque e num misto de emoções agradeceu primeiro "ao presidente, por me deixar despedir desta última etapa do futsal, na casa onde sonhei, com 16 anos, que não a tínhamos. E hoje com 39 consigo perceber que deixamos este legado para os mais jovens".
"Hoje venho aqui colocar um ponto final na minha carreira desportiva. É a decisão mais difícil que eu estou a tomar da minha vida, enquanto atleta. Eu queria ser jogador de futebol, negaram-me esse sonho por ser muito pequeno, mas a Carolina Silva, uma senhora que infelizmente não consegue estar aqui hoje, acreditou em mim. Foi ao meu bairro, a minha casa e foi buscar-me dizendo que tinha de jogar este desporto. Foi difícil, pois o campo era demasiado pequeno, mas depois foi amor quase à primeira vista, o de ter a bola no pé era sempre o meu sonho e ali estava sempre com a bola", prossegue.
O internacional português mostra-se "orgulhoso por ser uma referência de onde vim, porque tinha tudo para dar errado, tive a sorte de ter pessoas na minha vida, como a Carolina Silva ou o Sr.Armindo, que acreditaram em mim, que me deram conselhos, como pai quando não era meu pai. Consegui ser essa referência, consegui batalhar e chegar acima dos meus sonhos. Seis vezes melhor do mundo, levantar a bandeira de Portugal e do meu concelho Gondomar no Japão como campeão. Em Espanha, enquanto todos olhavam com os olhos cruzados para o talento português, eu fui lá demonstrar que nós somos realmente um povo de talento e trabalhador e, mais uma vez, consegui mostrar com a bandeira de Portugal às costas, com essa responsabilidade, mas com esse orgulho, de muitas conquistas e poder dizer que sou português".
"Obrigado Presidente, Obrigado a todos os que estão presentes, orgulhoso de ser português e de me despedir na minha casa", rematou.

No final do evento, Ricardinho entregou à Federação Portuguesa de Futebol as botas usadas na final do Campeonato do Mundo, diante da Argentina, a 3 de outubro de 2021 na Lituânia, naquele encontro que daria o primeiro título mundial ao conjunto nacional.