Especialista em VAR e antigo internacional integrou painel que destacou os desafios que a arbitragem enfrenta
Tiago Martins, especialista em vídeo-arbitragem, foi um dos participantes num painel exclusivo da arbitragem no Portugal Football Summit. A Associação de Futebol de Lisboa ‘convocou’ também Catarina Campos, Miguel Castilho e Gonçalo Nunes para fazer um retrato de uma caminhada ‘Do apito ao respeito’.
Além de confessar que o objetivo era ser treinador e que, inicialmente, nunca pensava em fazer carreira como árbitro, Tiago Martins destacou que as deslocações para os jogos podem ser um grande desafio, mas destacou outro fator importante com o qual é preciso lidar para reter mais árbitros.
“Outra das situações que leva os árbitros a abandonar é encontrarem dificuldades ao longo da sua etapa. No meu caso, a nível distrital, fui ascendendo de nível até chegar ao nacional, mas isto é a exceção. Quando não conseguem, por vezes não olham tanto para eles e tentam arranjar desculpas externas, não sabem ser resilientes. É importante ter uma palavra de um diretor, de um colega mais sénior, para o motivar e fazer continuar, para mostrar que a carreira é mesmo assim. Que não podemos desistir à primeira dificuldade”, afirmou.
Mas Tiago Martins também olha para o lado que o entusiasma. “Falámos em várias dificuldades, mas quem tira o curso cedo vai desenvolver determinadas características importantes para a vida. Aprendemos sobre liderança, sobre gerir pessoas, sobre comunicar. Isso são ferramentas importantes que uma pessoa vai usar ao longo da vida, que tanto pode usar na arbitragem como na sua carreira cá fora. A arbitragem traz valores muito positivos para vida. Enquanto pai, aconselho os meus filhos a tirarem o curso de árbitros porque se não tiverem uma carreira longa na arbitragem vão aprender estas características para desenvolver a sua profissão”, acrescentou.
Enquanto Miguel Castilho, a ‘representar’ o futsal, destacou a importância de haver acompanhamento e apoio de árbitros mais experientes, mas também a necessidade de criar mais condições de segurança nos jogos, Catarina Campos apontou um problema que diz persistir ainda hoje em dia.
“A maior dificuldade desde sempre até hoje tem a ver com a falta de aceitação do papel do árbitro. É difícil lidar com isso todos os dias. Fazer um trabalho comprometido porque amamos o futebol como os intervenientes do outro lado e ter constantemente em causa a nossa dedicação, o profissionalismo, imparcialidade, é difícil de lidar. Numa fase inicial do curso apitamos imensos jogos de camadas jovens e é assustador neste momento como adepta, mentora ou observador ir ver jogos desses e ver o comportamento dos pais. É difícil ter um arbitro de 16 ou 17 anos, nomeado sozinho para estes jogos, assumir esse papel de decisor e a forma como é tratado, como é desrespeitado, como é colocado em causa. Como se diz a uma criança de 14 ou 15 anos que está a roubar. É difícil crescer com este estigma constante sobre o papel do árbitro e infelizmente não muda quando chegamos aos patamares mais elevados. É o que urge ser combatido e enquanto não o fizermos vai ser muito difícil retermos árbitros”, sublinhou.
Por falar em jovens, Gonçalo Nunes, que aos 20 anos já é árbitro de categoria C5 enquanto estuda comunicação social e jornalismo, deixou um recado claro. “É importante humanizar a arbitragem. Também gostamos do futebol como o adepto ou o jogador. O que estamos a fazer aqui hoje há uns anos não era possível. Temos de nos abrir ao público, mostrar que não temos nada a esconder, e a parte da humanização da arbitragem é importantíssima para puxarmos público e jogadores para o nosso lado. Mostrar que não estamos aqui para prejudicar ninguém”,